A braquicefalia - nome que vem do grego “braqui”, que significa curto e “cefálico”, que é cabeça - é uma deformidade nos ossos da cabeça, que é vista na forma de um achatamento do crânio, fazendo com que a cabeça seja menos longa que o normal, podendo também parecer que a cabeça é mais alta quando vista lateralmente e mais larga quando vista de frente.
Essa deformidade pode ser observada tanto em cães, gatos quanto no próprio homem – e nesse caso, pode levar a problemas como o amadurecimento mais lento dos neurônios ou até mesmo situações piores, dependendo do nível da deformidade. Acredita-se que no ser humano essa característica seja causada em recém nascidos pela grande permanência em uma mesma posição quando deitados.
A braquicefalia em animais de estimação
Um dos grandes fatores que levou à grande incidência de pets que possuem braquicefalia foi a interferência do ser humano na criação de novas raças. Ao atuar como um mediador na reprodução de cães e gatos, o homem passou a selecionar as características que queriam que fossem passadas para as novas raças – seja por algum propósito estético ou por ser uma característica necessária para ele.
Em muitos casos, essa seleção se focava apenas em melhorar determinada característica – como o olfato apurado, ou aprender com facilidade como obedecer a comandos em uma caçada – sem levar em consideração o que isso poderia causar aos cães e como isso os afetaria. Com isso, muitas novas características surgiam e nem sempre essas eram favoráveis aos animais, e a braquicefalia é uma delas.
A braquicefalia em cães e gatos pode ser vista como o “focinho achatado” do pet. Em muitos casos isso acabou se tornando o charme da raça, o que faz com que essa característica continue sendo selecionada e seja parte do padrão da raça, apesar de muitas vezes desencadear em vários outros problemas de saúde.
Um cão ou um gato que sofram com a braquicefalia são aqueles em que os ossos do crânio se fundiram antes da hora, o que faz com que todas as estruturas que possuem na cabeça fiquem apertadas no crânio – ou como muitos diriam, é quase como se o cérebro do cão fosse maior que a cabeça. Dessa forma, muitos dos animais das raças que são afetadas pela braquicefalia apresentam problemas respiratórios em diferentes níveis de gravidade. Um fato interessante é que na natureza não existem casos de animais com braquicefalia, o que prova que esse é um problema que foi gerado pelo ser humano durante a criação de novas espécies de animais domésticos.
A braquicefalia em cães
Todos sabem que um dos principais sentidos dos cães é o seu olfato; e é exatamente por isso que a braquicefalia é uma anomalia tão nociva para nossos amigos cães. Ela pode causar uma série de problemas respiratórios já que por ter o focinho achatado, as vias respiratórias do cão se tornam mais estreitas. Em alguns casos a braquicefalia é tão pronunciada que pode causar até mesmo uma inflamação crônica na faringe do pet.
Como a maioria das pessoas não sabe que esse é um distúrbio tão prejudicial à saúde dos cães, muitas raças se tornaram conhecidas exatamente por serem raças braquicefálicas, ou seja, com o focinho achatado – como o Pug, Pequinês, Buldogues, entre outras raças.
Um detalhe interessante é que durante o processo de evolução desse quadro, o homem selecionou cães que possuíam o maxilar inferior do tamanho normal e apenas o superior sendo recuado – e é por isso que em muitas dessas raças é possível ver os dentes inferiores em alguns dos cães.
Normalmente os cães não apresentam todos os sintomas da braquicefalia, mas é extremamente importante que seus donos estejam cientes desse problema e que façam consultas regulares ao veterinário para avaliar as condições de saúde de seu cãozinho.
Alguns dos problemas mais comuns que podem surgir em cães braquicefálicos são:
- Estenose das narinas - Isso nada mais é que o nome usado pelos profissionais da área veterinária para cães que possuem as narinas estreitas. A braquicefalia faz com que a abertura nasal seja estreita e pequena demais para o cão, dificultando a respiração do animal. Em casos mais graves pode ocorrer intervenção cirúrgica, mas não é uma condição totalmente reversível.
- Palato mole alongado - O palato mole é a estrutura que separa a cavidade oral das passagens nasais. Nos cães que possuem o focinho achatado – conhecidos como cachorros braquicéfalos – essa estrutura fica solta na garganta, o que faz com que os cães produzam um som semelhante ao ronco. Na teoria, todos os cães que são afetados pela braquicefalia sofreriam com esse problema, porém na maioria das raças – a grande exceção é o Buldogue – não chega a representar um grande problema para a respiração do cão. Mas cães que ofegam demais ou latem muito podem acabar adquirindo um inchaço na garganta, o que pode acabar interferindo na respiração do animal.
- Hipoplasia traqueal: O cão braquicéfalo possui a traqueia muito estreita em alguns pontos. Por isso, na hora de realizar qualquer procedimento cirúrgico é imprescindível que o veterinário faça uma radiografia antes de anestesiar o seu pet, pois isso pode se tornar um grande risco para a saúde dele – já que a braquicefalia interfere na quantia de anestésico que deve ser aplicada no cão. Para evitar complicações durante ou após a cirurgia, além da radiografia, o mais aconselhável é a utilização de anestesia através de inalação, pois é menos invasiva.
- Estresse por calor: Por possuírem todos esses problemas com suas vias aéreas, até mesmo o ato de ofegar no calor se torna ineficiente em cães que sofrem com a braquicefalia. Um cão normal, quando ofega no calor, faz com que o ar entre mais rapidamente, fazendo a saliva evaporar e diminuindo a temperatura do sangue que passa pela língua do cão, ajudando a manter a temperatura do cão sob controle em dias mais quentes. Por isso, é muito importante garantir que seu cão esteja sempre dentro do peso ideal e que não seja muito exposto ao calor em dias quentes.
Além dos problemas nasais, os cães que sofrem com a braquicefalia também podem ter problemas com o posicionamento dos seus olhos, que podem parecer esbugalhados e em alguns casos atrapalhar no escoamento de lágrimas ou até mesmo fazer com que as suas pálpebras não se fechem totalmente.
Outro problema que também é comum em cães dessas raças é sofrer com o posicionamento de seus dentes; como o maxilar superior é recuado, os dentes dos cães tem menos espaço para crescer e por isso podem acabar crescendo em ângulos diferentes na boca do cão, o que ajuda no desenvolvimento de doenças dentárias mais cedo, já que são mais propensos à juntar restos de ração. Para evitar isso é aconselhável que o dono procure escovar os dentes do cão regularmente.
A braquicefalia em gatos
A primeira raça de gatos que pensamos quando o assunto é carinha amassada é o Persa. Assim como nos cães, esses gatos sofrem com problemas respiratórios que afetam não só sua energia para as brincadeiras com outros cães e gatos, como também atrapalham na manutenção da temperatura corporal do bichano.
Por serem tão procurados e gerarem muito lucro para os criadores, em alguns países da Europa surgiram leis que tentam regulamentar até que ponto isso é permitido, apesar de nenhuma dessas leis citar a braquicefalia explicitamente. No entanto, as raças de gatos com o focinho mais achatados continuam sendo a grande preferência em concursos e também entre os criadores de gatos.
Exatamente por isso, em muitos casos os gatos - principalmente os da raça Persa - não conseguem se alimentar, pois os seus dentes ficam desalinhados, chegando ao ponto que é necessário que seus donos preparem a sua comida com uma consistência parecida com a de uma papinha para que o gato possa comer, já que não consegue mastigar normalmente.
Em gatos, a braquicefalia faz com que ocorra um excesso de pele nos rostos dos felinos, o que pode causar infecções - tanto bacterianas quanto fungicas - e até mesmo uma dermatite que é conhecida como acne felina.
O grande problema da braquicefalia é que ela é uma deformação de origem genética e, enquanto os criadores e compradores não levarem a sério todos esses problemas de saúde que podem surgir, tudo que resta é tentar amenizar os efeitos desse distúrbio em nossos cães e gatos, sempre realizando consultas regulares ao veterinário e mantendo a saúde dos nossos companheiros de quatro patas em dia para evitar que o pet sofra.